Escurinho II: um brasileiro na história da Covilhã

Escurinho hoje vive na Covilhã e torce para os Leões da Serra.
Reprodução/Facebook
De nascimento, Francisco Machado. Do futebol, Escurinho II. Assim é a denominação deste andarilho do esporte bretão. Escurinho, nascido em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul e formado pelo Internacional, rodou por clubes de São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Mato Grosso, Paraná, Espanha e Portugal. Foi ainda, com a bola nos pés, que conheceu países como a Holanda e a Austrália. 
Escurinho II era lateral-esquerdo. Diziam, à época, que era o responsável por muitos dos gols do irmão. Luis Carlos Machado, o Escurinho “original”, como ele mesmo refere. 
O “mais famoso” inclusive disse, em declaração à revista Placar de junho de 1981: “Já imaginaram eu na área, com meu irmão cruzando para que meta a cabeça na bola? Será covardia”. Dividiu, durante a carreira, alguns clubes com seu irmão. Das histórias do futebol, rememora saudoso do tempo em que os jogadores entravam em campo pela torcida e pela camisa que vestiam. “Hoje, se jogar ou não, o dinheiro vai estar na conta no início do mês”, diz Escurinho.
A conversa se dá no trem. Um intercidades, com origem em Lisboa e de última parada na Covilhã. Embora o papo tenha se dado de Castelo Branco até o destino, percurso de pouco mais de uma hora, um emocionado, mas feliz Escurinho, relembrou sua trajetória no gramados. 
Aos poucos as lembranças surgem com mais detalhes. Em especial, um jogo que fez com o Sporting da Covilhã, fora de casa. Ao chegar no Estádio, viu um mar verde e branco de apoiadores dos leões da Serra. No vestiário, disse aos colegas de time: “Vocês viram a quantidade de torcedores que vieram até aqui gritar por nós? Então vamos jogar por eles.” E assim foi. O time saiu de campo vencedor.
Escurinho quando era atleta do Sporting
Clube da Covilhã.
Fonte: historiascc.com
O Sporting da Covilhã venceu aquela e outras 16 partidas, somou 43 pontos e foi disputar a primeira divisão do futebol português. Dentre esses jogos, Escurinho lembra de um, em especial, no qual marcou duas vezes de escanteio. “Uma pena aquele jogo não ter sido gravado”, diz o ex-jogador que conhecia como poucos o Estádio Santos Pinto e suas armadilhas na altitude. Sabia como bater na bola e qual efeito o vento colocaria nela.
“Aquela equipe tinha um ataque mortal. Fui improvisado no meio e consegui fazer uma boa dupla com o César Brito, que era o centroavante. Subimos para a primeira liga e chegamos até as semifinais da Taça de Portugal. Perdemos para o Benfica no Estádio da Luz”,  recorda o brasileiro.
Outra torcida que relembra com carinho, é a do Internacional. Do Beira-Rio do tempo da Coreia. Da torcida inflamada e em pé. Do gol iluminado de Figueroa e da vitória sobre o Corinthians em 1976. Francisco Machado esteve nas duas conquistas coloradas. Alternava jogos com o lendário Vacaria, na lateral-esquerda do colorado. Hoje, destas recordações, guarda com carinho uma carteirinha de ex-atleta e, quando está em Porto Alegre, não perde os jogos do Internacional. Atualmente o contato com o clube se dá pelas redes sociais e conversas com o grupo do Povo do Clube.
No fim da carreira, escolheu Portugal para residir. Chegou a trabalhar como treinador da equipe de juniores do Figueira da Foz, onde, inclusive, o time treinado por ele enfrentou o Sporting de um Cristiano Ronaldo em início de carreira e disse “naquele tempo, o moleque já era um grande jogador”.
 Até tentou retornar ao Brasil. Voltou e ficou em Porto Alegre por seis anos. Voltou para ter mais contato com alguns familiares e projetar um futuro fora das quatro linhas, mas dentro do futebol. Não deu certo. Passou por várias dificuldades e nesse tempo, viu o irmão Escurinho “original” falecer. Não conseguiu se adaptar as rotinas da capital gaúcha. Regressou para Portugal, perambulou pelas ruas lisboetas até que um grupo de sócios do Sporting da Covilhã o trouxeram para residir na cidade.
Escurinho deixou o futebol, mesmo que ainda sonhe com ele, mas seu nome estará, para sempre, registrado nas histórias dos clubes por onde passou. Principalmente no Sporting da Covilhã, clube que aprendeu a gostar e hoje torce pelo sucesso, principalmente por sua torcida. Hoje ele segue feliz e agradecido, sendo mais uma página viva da bela história dos Leões da Serra.
Esta história ainda será ampliada. Escurinho ainda tem muito a contar. Uma viagem de trem não foi suficiente para toda essa história. Que outras viagens ou encontros despretensiosos aconteçam para que mais capítulos desta história possam ser contados em breve. 

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4 Comentários

  1. Conheci ontem por acaso em um restaurante de Covilhã
    Uma simpatia de pessoa, com muita história pra contar!

  2. Um ótimo homem que foi meu treinador nos juniores da Naval 1° de Maio. Nos treinos naquele tempo já com 40 e alguns anos, era um prazer vê-lo bater bolas à entrada da área a treinar os guarda-redes! Dizia-lhes que ia meter em determinado ângulo e… ela lá para dentro. Grande abraço mister Escurinho.

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